O Setor Segurador- Indicadores seguros

 

Indicadores setor Segurador – 1º quadrimestre 2023

 O Setor Segurador- Indicadores seguros

(fonte APS, Associação Portuguesa de Seguradores, salvo quando outras indicadas)

Em termos de conjuntura, A assimétrica mas globalmente marcada recuperação económica a que assistimos em 2022, foi no meio da incerteza e principal destaque para o “descontrolo” da inflação, causados pelos efeitos da guerra na Ucrânia.

Estamos numa era de navegação à vista em que ninguém consegue prever ao certo os efeitos desta guerra para a qual não se vê fim à vista, e os últimos meses têm trazido surpresas não esperadas: a economia está a arrefecer menos do que o esperado (valha-nos a crescente notoriedade de Portugal como destino turístico e a vontade de viajar que caracteriza o pós covid), depois dos 6.7% de crescimento de 2022;  a inflação galopante de que já não nos lembrávamos há décadas, fechou o ano em 7.8% e em termos agregados neste 1º trimestre cresceu ainda mais, mas em abril  foi apenas de 5.7% – vejamos qual será o impacto dos novos aumentos anunciados recentemente nos combustíveis. Já o desemprego aumentou no 1º T mas baixou em abril.

Em termos da saúde do setor,

Ainda são conhecidos resultados de poucas seguradoras no 1º T 2023, mas é interessante destacar o bom desempenho global no ano passado.

No acumulado das Seguradoras tuteladas por Portugal, os Resultados do exercício de 2022 subiram 39% face aos de 202, tendo atingido os 900 milhões de euros e prémios emitidos de 12 mil milhões. Inclui os dados agregados de cerca de 40 das 63 seguradoras estabelecidas em Portugal, entre as de direito português e as sucursais de seguradoras estrangeiras com sede na União Europeia.

A solidez das seguradoras mantém-se globalmente firme, como o indicam os dois rácios mais importantes seguidos pela ASF:

SCR- Requisito de Capital de Solvência: 202%, o que representa uma diminuição de cinco pontos percentuais face ao final de 2021, mas muito acima dos 100% considerado mínimo para assegurar solvência. O SCR é a medida do montante de fundos próprios necessários para a absorção das perdas resultantes de um evento de elevada adversidade e resulta da agregação das cargas de capital relativas aos vários riscos a que as empresas de seguros se encontram expostas.

MCR- Requisito de Capital Mínimo: diminuição de 48 pontos percentuais, situando-se em 528%, muito acima do mínimo de 100%.

Em termos da produção do setor

Contrariando o crescimento homólogo verificado em 2021 (+34,0%), a produção global em Portugal caiu cerca de 10% em 2022 e a queda acentuou-se nestes primeiros 4 meses, para os 13.5%, contexto explicado exclusivamente pela contração expressiva no ramo Vida (22% em 2022 e agora neste 1º terço do ano queda de mais de 1/3 face ao período homólogo de 2022). Vida é maioritariamente vendida pela Banca e foi especialmente penalizada pelo ambiente prolongado de baixas taxas de juro, com particular impacto nos produtos financeiros. Aliás os seguros vida risco têm tido uma evolução positiva, acompanhando a venda de habitação.

A recuperação da economia esteve bem patente no bom desempenho de Não-Vida, que continua a crescer pelo 9º ano consecutivo, agora até ligeiramente acima da inflação (o contrário marcou 2022, apesar de um crescimento absoluto de 7%).

Os custos com sinistros Não-vida tinham crescido em 2022 apenas 3.8%, mas a inflação de 7.8% em 2022 e a de 8.6% acumulada nestes primeiros meses de 2023, sentem-se cada vez mais nos acordos do setor ao nível das indemnizações, com os reparadores e sobretudo nos serviços de saúde, pressionando a revisão em alta das tarifas dos seguros.

Vejamos, em seguida, o que aconteceu nos principais ramos Não Vida.

Automóvel (jan-abr23/jan-abr22)

         

A produção tem evoluído positivamente mas bem abaixo da inflação (5.8% em 2022 e 4.4% até agora em 2023), fruto de correções tarifárias em alta e de um acréscimo no parque seguro, que em 2022 aumentou 1.4%). Mas a inflação nos custos com os sinistros e um acréscimo nos sinistros abertos – reflexo de uma economia mais “normalizada” -, tiveram um impacto num acréscimo da percentagem de sinistralidade do ramo (sobretudo em Danos Próprios) e que no global onerou em 2.2 pontos percentuais;  sinistralidade na componente de Responsabilidade Terceiros mantém-se das mais elevadas em todos os subramos (76,8%) (dados de 2022).

Todo embora seja um ramo charneira com muitas vagas de concorrência, os preços estão a  aumentar mais durante 2023, pela sinistralidade e pressão da inflação.

AT- Acidentes de Trabalho (jan-abr23/jan-abr22)

Depois de 5.8% de crescimento em 2022, nestes primeiros 4 meses de 2023 o ramo dispara, pela boa evolução da economia, tarifas em alta mas sobretudo pelo aumento dos salários/capitais seguros.

Este tem sido o ramo onde a autoridade de tutela tem nas últimas décadas mais aconselhado prudência na concorrência e os efeitos estão à vista, tendo 2022 terminado com níveis de sinistralidade que já não se viam há muito (55,1%).

IOD- Incêndio e Outros Danos (jan-abr23/jan-abr22)

 Franca retoma de 7% em 2022, continua em 2023, pelo acréscimo no número de apólices e pelas tarifas em média a aumentar. Nos primeiros 4 meses de 2023, a produção do ramo aumentou 5.2%, face ao mesmo período de 2022, embora de forma muito assimétrica (quase +10% nos riscos habitacionais e -2,7% nos do comércio e indústria).

A sinistralidade estava bastante contida, não fossem incidentes súbitos, de fenómenos da natureza onde se destacam as inundações de dez22 na Área Metropolitana de Lisboa, que originaram um volume de indemnização pagas pela atividade superior a 47 milhões de euros (e acrescem a estes prejuízos apurados os que não estavam cobertos por seguros e que se estimam em pelo menos mais de 60% do total).

Infelizmente, a baixa pluviosidade e o aumento da temperatura antecipam um 2023 com grande probabilidade de incêndios florestais. Aconselhamos extrema precaução em medidas de prevenção e contenção, nomeadamente ao nível de limpeza de matas circundantes a unidades industriais.

Face à elevada incidência de fenómenos da natureza “descontrolados” no planeta (ao que acrescem o fenómeno em espiral dos ciberataques), com elevados prejuízos para os resseguradores, a abertura destes para assumir risco tem vindo a decrescer e a seletividade e endurecimento de condições de subscrição estão na ordem do dia.

 Saúde (jan-abr23/jan-abr22)

O franco crescimento deste ramo tem sido dos mais regulares nos últimos 15 anos (ver gráfico abaixo com os anos mais recentes), mas no ano de 2022 tem o mérito de ultrapassar os dois dígitos (11.5%). E a tendência de aceleração do crescimento foi ainda mais expressiva no 1º terço de 2023: 15.3%, face a igual período de 2022.

A noção de fragilidade agudizou-se com o covid e a responsabilidade social das empresas pelo bem-estar dos seus colaboradores tem também o seu impacto no aumento de 9,6% no total de pessoas seguras registado em 2022, terminando o ano com 3,35 milhões com seguro de saúde.

2023 continua a trazer pressão em alta sobre os preços (entre os 5 e os 10%), já que a sinistralidade contínua em níveis sérios (fechou 2022 com 71,7%) e os aumentos médios de 4.6% no prémio por pessoa verificados em 2022, são largamente absorvidos pela inflação nos custos de saúde, superior ainda à inflação geral. A título de exemplo, refira-se que as convenções de custos por atos clínicos foram recentemente revistas em alta ao fim de quase 12 anos sem acertos.

No passado dia 8 de maio podia ler-se no Eco Seguros:

Pelo lado positivo, a maioria das seguradoras, sensível ao impacto da pandemia e agora da guerra na saúde mental, está a integrar nas coberturas maior abertura às doenças do foro psiquiátrico e check-ups gratuitos.

Os descontos por medidas de boas práticas de saúde são cada vez mais usados.

 

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